A Insuficiência Renal pode afectar muitos aspectos da vida, incluindo a sexualidade.
Uma vez que falar de sexo pode ser difícil, é o objetivo deste artigo abordar este tema importante como qualquer outro, de forma aberta, confortável e científica. Nele tentamos dar resposta a algumas questões que resultam do efeito que a insuficiência renal tem sobre a sexualidade e encorajar os insuficientes renais, a sua família, e os profissionais de Saúde a falar abertamente sobre o assunto.
Depois de ler este artigo, se tiver questões médicas sobre esta temática, fale com a equipa clínica. Qualquer questão é válida.
O QUE É A SEXUALIDADE ?
Muitas pessoas pensam que a sexualidade se refere apenas ao ato sexual mas na verdade o conceito de sexualidade inclui muitos fatores, desde o modo como as pessoas se sentem consigo próprias, como comunicam com os outros, a disponibilidade que apresentam para estabelecer uma relação com o outro.
COMO É QUE A DOENÇA RENAL AFECTA A MINHA VIDA SEXUAL ?
A doença renal pode provocar alterações físicas e emocionais que afectam a sua vida sexual.
As alterações químicas que ocorrem no seu corpo afectam as hormonas, a função dos nervos e o nível de energia. Estas alterações geralmente diminuem o seu interesse e/ou a sua capacidade sexual. Muitas dos remédios que se toma para controlar as tensões podem também afectar a sua capacidade sexual.
É O ACTO SEXUAL SEGURO PARA O INSUFICIENTE RENAL ?
Sim. Os insuficientes renais e os seus parceiros não devem pensar que a atividade sexual pode ser insegura para a saúde em geral, para a saúde da fístula ou para a saúde do rim transplantado.
Não há necessidade de qualquer limitação na vida sexual do insuficiente renal.
Se a atividade sexual não exerce pressão ou tensão no local da fistula, não há qualquer problema. Depois de receber um transplante é importante esperar até que a cicatriz esteja curada. Desde que o seu médico lhe diga que pode retomar a sua actividade sexual, não há que ter receio em prejudicar o seu rim transplantado. Não tenha medo de perguntar.
O receio pode levar as pessoas a evitar a actividade sexual desnecessariamente.
Como com todos os tipos de atividade física, os insuficientes renais devem usar o seu bom senso, escutar o corpo, e falar com o seu médico e enfermeira para decidir se a atividade que praticam pode ser de alguma forma prejudicial ou desaconselhada.
A Gravidez na Diálise
UMA MULHER EM DIÁLISE PODE TER UMA CRIANÇA ?
Geralmente a probabilidade é menor na mulher insuficiente renal. Muitas mulheres em diálise não possuem períodos regulares. No entanto o uso da Eritropoietina para tratamento da anemia tem melhorado muitos aspetos da saúde da mulher em diálise, de modo que as probabilidades de engravidar são maiores. Se a gravidez ocorre, existe um risco acrescido de aborto.
Só raramente uma mulher em diálise consegue chegar ao fim com a sua gravidez. Devemos compreender que a gravidez é um acontecimento muito exigente para o corpo de uma mulher, mesmo que não-insuficiente renal), e para uma insuficiente renal e a sua criança, a gravidez é uma situação de maior risco.
Esta situação pode naturalmente e legitimamente provocar alguma mágoa interior (e no relacionamento), e pode necessitar a ativação de ferramentas de adaptação interior, relacional e psicológica. Estes assuntos (e outros, como a discussão aberta de opções alternativas como seja a adopção) e sentimentos envolvidos podem e devem ser falados abertamente com profissionais de saúde física e mental.
É POSSÍVEL UM HOMEM EM DIÁLISE TORNAR-SE PAI ?
Sim. Os homens em diálise ou aqueles que têm recebido um transplante podem ter filhos.
O casal se tiver feito tentativas durante um ano e não tiver conseguido uma gravidez, deve procurar a ajuda de um profissional. O homem deve fazer um exame de fertilidade.
É MAIS FÁCIL UMA MULHER TRANSPLANTADA ENGRAVIDAR QUE UMA MULHER EM DIÁLISE ?
Sim. Uma mulher que foi transplantada geralmente tem períodos mais regulares e uma mais estável condição de saúde. Então é mais fácil engravidar e ter uma criança. Contudo, a gravidez não é recomendada no primeiro ano após o transplante, mesmo se a função do rim estiver estável. Em alguns casos a gravidez não é recomendável por causa do risco de vida para a mãe ou por uma possível perda do rim transplantado.
PODE A MEDICAÇÃO DA PESSOA TRANSPLANTADA PREJUDICAR A CRIANÇA ?
A medicação que se toma para prevenir a rejeição não parece afectar ou causar efeitos negativos na criança. Sendo que a dose da medicação é importante. No período inicial após o transplante a quantidade destes remédios é maior e depois eles vão sendo reduzidos progressivamente. Nesta fase a dose não parece ser prejudicial para a gravidez. Contudo, os efeitos a longo prazo ainda não são conhecidos. A mulher transplantada que está a pensar engravidar deve discutir este problema e qualquer possível risco com o médico.
QUE TIPO DE PÍLULA ESTÁ RECOMENDADO PARA O INSUFICIENTE RENAL ?
A insuficiente renal em Diálise com períodos menstruais - e que pode portanto engravidar - deve usar uma pílula se pretender evitar a gravidez. O médico pode-lhe recomendar o tipo de pílula a utilizar. Geralmente, as mulheres que apresentam hipertensão arterial não devem usar pílula, uma vez que esta pode elevar a tensão. E as mulheres transplantadas não devem usar aparelhos intra-uterinos (DIU) pois correm maior risco de contrair infecção por estes aparelhos por causa da medicação que usam para prevenir a rejeição do rim transplantado.
Ainda outros métodos de contracepção há que podem lhe ser sugeridos pelo seu ginecologista.
O DESENVOLVIMENTO SEXUAL DE UMA CRIANÇA É AFECTADO PELA INSUFICIÊNCIA RENAL ?
Isto depende da idade da criança na altura em que a insuficiência renal se desenvolveu.
As crianças mais jovens com doença renal são geralmente mais pequenas que as outras crianças da sua idade e elas tendencialmente têm também um percurso de desenvolvimento sexual mais lento.
Crianças que estão em diálise provavelmente terão também um crescimento e desenvolvimento sexual mais lento que uma criança transplantada. E num adolescente, a doença renal pode provocar um atraso ou mesmo paragem do seu desenvolvimento sexual. Por exemplo, as adolescentes do sexo feminino podem nunca ter períodos menstruais.
As alterações devidas a insuficiência renal e o seu tratamento podem levar os adolescentes a sentir-se diferentes dos seus amigos e companheiros. Os pais devem preocupar-se com o crescimento e desenvolvimento sexual do seu filho ou filha com insuficiência renal, e procurando estimular à auto estima, confiança, independência e auto-desenvolvimento - importantes elementos da formação do adolescente a adulto.
Os pais devem procurar falar abertamente com a equipa clínica e profissionais especializados sobre estes assuntos e sobre alguma situação que se lhes aparente importante ou preocupante em relação ao seu filho, de forma a receber o aconselhamento necessário.
Transplante e Sida
HÁ ALGUM RISCO EM CONTRAIR SIDA A PARTIR DE UM TRANSPLANTE, OU DE TRANSMITIR SIDA O PARCEIRO SEXUAL ?
Os rins transplantados e transfusões de sangue são por rotina testados para o vírus da SIDA.
O risco de contrair SIDA a partir de um transplante ou transfusão é portanto muito pequena.
O risco de transmitir o vírus da SIDA ao seu parceiro sexual é muito pequena como consequência do transplante.
O teste da SIDA pode ser feito na sua Clínica ou Hospital, e permanece confidencial.
Até que se saiba o resultado deste teste, devem ser utilizados meios de segurança aquando de qualquer pratica sexual.
PODE O RIM TRANSPLANTADO DE UMA PESSOA DO SEXO OPOSTO AFECTAR A MINHA SEXUALIDADE ?
Não. O sexo do dador do rim não tem qualquer influência em qualquer fator relacionado à sexualidade do transplantado.
AS PESSOAS TRANSPLANTADAS TÊM MENOS PROBLEMAS SEXUAIS QUE AS PESSOAS EM DIÁLISE ?
Em geral, as pessoas transplantadas apresentam menos problemas que aquelas em diálise, pois terão, em princípio, menos problemas físicos que afectam a função sexual como sejam a fadiga e a anemia. No entanto ter um transplante renal não os torna menos susceptíveis a problemas sexuais. A saúde sexual depende de vários fatores como sejam a relação do casal, a idade, o nível stress, a saúde emocional e a condição física do transplantado.
PODEM OS PROBLEMAS SEXUAIS PIORAR COM O TEMPO DE DIÁLISE ?
Ter insuficiência renal, como qualquer outra doença crónica, tem implicações físicas no corpo. Contudo à medida que o corpo se adapta ao tratamento, o insuficiente renal deve sentir-se melhor física, emocionalmente, e sexualmente.
É importante ser paciente e dar tempo para o que o corpo e mente se adaptem à insuficiência renal e ao tratamento. Ser flexível em relação ao conceito da sexualidade e ter uma atitude positiva acerca do próprio e da sexualidade reduz a probabilidade de vir a ter problemas sexuais importantes.
O QUE PODEM OS INSUFICIENTES RENAIS FAZER PARA SE AJUDAR A SI PRÓPRIOS ?
Tome um papel ativo aprendendo sobre a Insuficiência Renal e sobre o seu tratamento.
- Siga uma dieta adequada e as orientações alimentares aconselhadas.
- Tome toda a medicação conforme prescrita, e fale ao seu médico sobre qualquer efeito indesejável.
- Pergunte e discuta com o seu médico um programa de exercício adequado para si, para o ajudar a aumentar a sua força e capacidade muscular.
Ter um maior controle sobre a situação e o tratamento ajuda a sentir-se melhor. A insuficiência renal é mais fácil de aceitar com uma atitude positiva.
Leve um estilo de vida saudável. Tenha consciência que outras coisas tais como o álcool e o tabaco também podem influenciar a sua capacidade sexual.
Os problemas sexuais são frequentes independentemente da insuficiência renal.
Falar sobre este assunto pode por vezes ser desconfortável mas não tem de o ser. É importante discutir com o seu parceiro e com os médicos os seus sentimentos e preocupações.
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